Após uma semana de tarifaço, diplomatas apontam 'truculência' do governo Trump e dizem que negociações não avançam
Diplomatas ouvidos pela TV Globo disseram avaliar que, após uma semana de tarifaço americano contra mercadorias brasileiras em vigor, o governo de Donald Trump age com "truculência" em relação ao Brasil e, com isso, as negociações não avançam.
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Segundo os relatos, conversas de bastidor têm acontecido entre integrantes dos dois governos, mas a avaliação é que, até agora, Trump não autorizou nenhum assessor próximo a discutir as tarifas de maneira efetiva com o Brasil, o que demonstra que a Casa Branca não quer negociar.
Na semana passada, entrou em vigor a tarifa de 50% imposta pelos Estados Unidos a produtos brasileiros vendidos no mercado americano.
Ao todo, cerca de 700 itens foram excluídos da tarifa, como suco de laranja e derivados de aço, mas outros, como café e carne bovina – importantes itens da economia brasileira –, seguiram na lista do tarifaço, o que prejudica as exportações.
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Contingência
O governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva formula o chamado plano de contingência, para tentar ajudar setores afetados pela tarifa imposta pela Casa Branca.
Nesse contexto, na última segunda (11), Lula se reuniu com os ministros Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e Geraldo Alckmin que, além de vice-presidente, comanda o Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC).
O blog da Ana Flor informou que o governo quer iniciar o debate sobre medidas de reciprocidade após lançar o plano de contingência. Recentemente, Lula regulamentou a chamada Lei da Reciprocidade Econômica, aprovada pelo Congresso Nacional.
Empresários de diversos setores, entretanto, têm cobrado do governo brasileiro que insista no caminho da negociação e não retalie, total ou parcialmente, a economia americana. Entendem que uma eventual retaliação pode piorar ainda mais o cenário.
Os Estados Unidos são o segundo maior parceiro comercial do Brasil, atrás somente da China. Nesse cenário, o setor da indústria informou ter proposto ao governo que adote medidas como:
linha de financiamento emergencial pelo BNDES;
prazo maior para pagamento de financiamentos direcionados ao comércio exterior.
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“A confirmação da aplicação da sobretaxa sobre os produtos brasileiros, ainda que com exceções, penaliza de forma significativa a indústria nacional, com impactos diretos sobre a competitividade. Não há justificativa técnica ou econômica para o aumento das tarifas, mas acreditamos que não é hora de retaliar", afirmou em nota o presidente da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Ricardo Alban.
"Seguimos defendendo a negociação como forma de convencer o governo americano que essa medida é uma relação de perde-perde para os dois países, não apenas para o Brasil", acrescentou.
Conversas com líderes do Brics
Para diplomatas ouvidos pela TV Globo, as recentes conversas do presidente Lula com líderes do Brics podem mostrar à comunidade internacional que o Brasil ainda aposta na solução de conflitos comerciais por meio de organismos multilaterais, como a Organização Mundial de Comércio (OMC).
O Brasil já enviou consultas à entidade, mas nos bastidores os próprios diplomatas dizem que o gesto, neste momento, tem caráter mais simbólico que prático, uma vez que entendem que a OMC está sem força para implementar alguma eventual decisão desfavorável aos EUA.
Ao longo dos últimos dias, Lula conversou com:
Vladimir Putin (Rússia);
Xi Jinping (China);
Narendra Modi (Índia).
Nessas conversas, segundo o Palácio do Planalto, o presidente brasileiro abordou temas como:
o atual cenário político e econômico internacional (Putin);
o papel do G20 e do Brics na defesa do multilateralismo (Xi Jinping);
imposição de tarifas unilaterais e aproximação comercial (Modi).
Desde que assumiu a Casa Branca pela segunda vez, Trump tem criticado o Brics e imposto tarifas a países do grupo, acusando o bloco de países emergentes de promover "políticas antiamericanas" – nos casos de Brasil e Índia, a tarifa é de 50%.
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Secretário de Trump cancelou conversa com Haddad
Nesta segunda (11), o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, informou que o secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, cancelou uma conversa que os dois teriam nesta semana.
Em entrevista ao Estúdio I, da GloboNews, Haddad atribuiu o cancelamento a uma articulação de grupos de extrema-direita nos EUA.
"A militância antidiplomática dessas forças de extrema-direita que atuam junto à Casa Branca teve conhecimento da minha fala, agiu junto a alguns assessores, e a reunião virtual que seria na quarta-feira foi desmarcada", disse o ministro.
Recentemente, o ministro das Relações Exteriores, Mauro Vieira, se reuniu com o secretário de Estado dos Estados Unidos, Marco Rubio, chefe da diplomacia americana, numa articulação de bastidor que só foi publicizada após o encontro.
Na ocasião, diplomatas revelaram sob reserva que havia um receio de o encontro, se divulgado antes, fosse alvo de articulações para que não acontecesse e isso enfraquecesse a posição de Vieira em Washington.FONTE: https://g1.globo.com/politica/noticia/2025/08/12/apos-uma-semana-de-tarifaco-diplomatas-apontam-truculencia-do-governo-trump-e-dizem-que-negociacoes-nao-avancam.ghtml