Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA e arquiteto da 'guerra ao terror' de George W. Bush, morre aos 84 anos
04/11/2025
(Foto: Reprodução) Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA, morre aos 84 anos
O ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney morreu aos 84 anos, informou sua família nesta terça-feira (4).
Um dos mais controversos e poderosos vice-presidentes da história dos Estados Unidos, Cheney esteve no poder durante o governo de George W. Bush, entre 2001 e 2009. Foi o responsável por arquitetar a chamada "guerra contra o terror" de Bush, que culminou na invasão ao Iraque após os atentados às torres gêmeas de Nova York (leia mais abaixo).
Cheney morreu na noite de segunda-feira (3) devido a complicações de pneumonia e problemas cardíacos e vasculares, de acordo com a família.
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Veja quem foi Dick Cheney, ex-vice-presidente dos EUA que morreu aos 84 anos
Ex-vice-presidente dos Estados Unidos Dick Cheney morreu aos 84 anos em 4 de novembro de 2025. Foto de 2004 durante Convenção Nacional do Partido Republicano.
REUTERS/Gary Hershorn/File Photo
Na invasão ao Iraque, em 2003, Cheney foi um dos maiores defensores da tese do governo Bush de que o país tinha um suposto arsenal de armas de destruição em massa. Nenhuma dessas armas foi encontrada.
Ele entrou em conflito com vários assessores importantes de Bush, incluindo os Secretários de Estado Colin Powell e Condoleezza Rice, e defendeu técnicas de interrogatório "aprimoradas" para suspeitos de terrorismo, que incluíam afogamento simulado e privação de sono.
O Comitê de Inteligência do Senado dos EUA e o relator especial da ONU sobre antiterrorismo e direitos humanos classificaram essas técnicas como "tortura".
Como vice-presidente de 2001 a 2009, Dick Cheney lutou pela expansão do poder da presidência, que segundo ele vinha sendo corroído desde o escândalo de Watergate, que levou à renúncia do ex-presidente Richard Nixon.
Ele também ampliou a influência do cargo de vice-presidente ao formar uma equipe de segurança nacional que frequentemente atuava como um centro de poder dentro do governo.
No ano passado, no entanto, Cheney, republicano, declarou apoio à democrata Kamala Harris na corrida eleitoral para a Casa Branca, porque dizia achar que o atual presidente, o também republicano Donald Trump, não servia para o cargo.
Sua filha, Liz Cheney, que se tornou uma influente congressista republicana, também se opôs a Donald Trump e liderou a investigação do Congresso sobre a invasão ao Capitólio, além de votar pelo impeachment de Trump.
"Nos 248 anos de história da nossa nação, nunca houve um indivíduo que representasse uma ameaça maior à nossa república do que Donald Trump", disse Cheney, que por muito tempo foi um dos principais opositores da esquerda nos EUA.
Cheney sofreu de problemas cardíacos durante grande parte da vida, e teve o primeiro de vários ataques cardíacos aos 37 anos. Ele passou por um transplante de coração em 2012.
Arquiteto da 'guerra ao terror'
O discreto e incisivo Cheney serviu a presidentes pai e filho: ele liderou as Forças Armadas como chefe da Defesa durante a Guerra do Golfo Pérsico de George Bush, antes de retornar à vida pública como vice-presidente sob o governo do filho de Bush, George W. Bush.
Também ex-deputado de Wyoming e ex-secretário de Defesa, já era uma figura importante em Washington quando o então governador do Texas, George W. Bush, o escolheu como seu vice na eleição presidencial de 2000, que venceu.
Cheney era, na prática, o diretor de operações da presidência de George W. Bush. Ele tinha participação, muitas vezes decisiva, na implementação de decisões importantes para o presidente e algumas de grande interesse pessoal — tudo isso enquanto convivia com décadas de doença cardíaca.
Após o término do governo, passou por um transplante de coração.
Sobrevivente de cinco ataques cardíacos, Cheney por muito tempo acreditou estar vivendo por um fio e declarou em 2013 que agora acordava todas as manhãs "com um sorriso no rosto, agradecido pelo dom de mais um dia".
Era do terrorismo
Seu mandato como vice-presidente foi marcado pela era do terrorismo.
Cheney revelou que havia desligado a função sem fio de seu desfibrilador anos antes, por medo de que terroristas lhe enviassem um choque fatal remotamente.
Durante seu mandato, a vice-presidência deixou de ser uma mera formalidade. Em vez disso, Cheney a transformou em uma rede de canais indiretos para influenciar políticas sobre o Iraque, terrorismo, poderes presidenciais, energia e outros pilares de uma agenda conservadora.
Ele alegou ligações inexistentes entre os ataques de 2001 contra os Estados Unidos e o Iraque pré-guerra. Disse que as tropas americanas seriam recebidas como libertadoras, o que também não ocorreu.
Para seus admiradores, no entanto, Cheney manteve a fé em tempos incertos, resoluto mesmo quando a nação se voltou contra a guerra e seus líderes.
Mas, durante o segundo mandato de Bush, a influência de Cheney diminuiu, contida por tribunais ou pelas mudanças na realidade política.
Cheney operou grande parte do tempo de locais não divulgados nos meses que se seguiram aos ataques de 2001, mantendo-se afastado de Bush para garantir que um ou outro sobrevivesse a qualquer ataque subsequente à liderança do país.
No ataque de 11 de setembro de 2001 em Nova York, Cheney foi uma presença constante na Casa Branca, já que Bush estava fora de Washington.
Desde o início, Cheney e Bush fizeram um acordo peculiar, tácito, mas bem compreendido. Abrindo mão de ambições de suceder Bush, Cheney recebeu um poder comparável, em alguns aspectos, ao da própria presidência.
"Ele é feito para ser o número dois perfeito", disse certa vez Dave Gribbin, um amigo que cresceu com Cheney em Casper, Wyoming, e trabalhou com ele em Washington. "Ele é discretamente reservado. É extremamente leal."
Como Cheney disse: "Quando aceitei o cargo de vice-presidente, decidi que minha única agenda seria a dele, que eu não seria como a maioria dos vice-presidentes — e isso era uma estratégia, tentando descobrir como eu seria eleito presidente quando o mandato dele terminasse."