'Estamos fazendo isso porque eu posso', diz Trump sobre tarifas de 50% ao Brasil
15/07/2025
(Foto: Reprodução) Trump: 'Taxei o Brasil porque eu posso'
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, afirmou nesta terça-feira (15) que decidiu impor tarifas de 50% sobre a importação de produtos brasileiros porque "pode fazer isso" e quer "dinheiro entrando" no país.
A declaração, que ignora fatores econômicos, foi dada após jornalistas questionarem o republicano sobre a tarifa imposta ao Brasil. A medida é a mais alta até agora, entre mais de 20 países que devem enfrentar cobranças elevadas sobre importação nos EUA a partir de 1º de agosto.
“Estamos fazendo isso porque eu posso fazer. Ninguém mais seria capaz", disse Trump no gramado da Casa Branca. "Temos tarifas em vigor porque queremos tarifas e queremos o dinheiro entrando nos EUA", acrescentou.
Em carta endereçada ao presidente Lula (PT) na última quarta-feira (9), Trump argumentou que irá elevar a taxa do Brasil em 50% por ter uma relação comercial "injusta" com o país. Os dados oficiais, no entanto, mostram que os norte-americanos têm vantagem na balança comercial. (leia abaixo)
Além disso, o republicano citou Jair Bolsonaro (PL) e disse ser "uma vergonha internacional" o julgamento do ex-presidente no Supremo Tribunal Federal (STF).
Nesta terça-feira, Trump também voltou a defender Bolsonaro após ser informado sobre o pedido de condenação apresentado pela Procuradoria-Geral da República (PGR).
Em sua fala, Trump afirmou que “não é que ele seja amigo” de Bolsonaro, mas sim alguém que conhece. O presidente dos EUA também voltou a dizer, sem apresentar provas, que o julgamento de Bolsonaro no STF seria uma “caça às bruxas”.
“O presidente Bolsonaro é um bom homem. Conheci muitos primeiros-ministros, presidentes, reis e rainhas, e sei que sou muito bom nisso. O presidente Bolsonaro não é um homem desonesto. Ele ama o povo brasileiro. Ele lutou muito pelo povo brasileiro”, disse Trump.
“Ele negociou acordos comerciais contra mim em nome do povo brasileiro, e foi muito duro, porque queria fazer um bom negócio para seu país. Ele não era um homem desonesto. Acredito que isso seja uma caça às bruxas e que não deveria estar acontecendo. Eu sei disso”, continuou.
'Estamos fazendo isso porque eu sou capaz de fazer', diz Trump, sobre aplicação de tarifas
Déficit comercial?
Ao justificar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, Trump afirmou que a relação comercial dos EUA com o Brasil é "injusta". "Nosso relacionamento, infelizmente, tem estado longe de ser recíproco", escreveu.
"Por favor, entenda que essas tarifas são necessárias para corrigir os muitos anos de tarifas e barreiras tarifárias e não tarifárias do Brasil, que causaram esses déficits comerciais insustentáveis contra os EUA. Esse déficit é uma grande ameaça à nossa economia e, de fato, à nossa segurança nacional", disse Trump na carta a Lula.
Apesar do argumento, dados do Ministério do Desenvolvimento mostram o contrário. O Brasil tem registrado déficits comerciais seguidos com os EUA desde 2009 — ou seja, há 16 anos. Isso significa que o Brasil gastou mais com importações do que arrecadou com exportações.
Ao longo desse período, as vendas americanas ao Brasil superaram as importações em US$ 90,28 bilhões (equivalente a R$ 493 bilhões na cotação atual), considerando os números até junho de 2025. Leia mais aqui.
Por isso, analistas afirmam que a postura de Trump com as tarifas tem um forte componente geopolítico, com o objetivo principal de ampliar seu poder de barganha e influência nas relações internacionais.
Na carta, o republicano também afirmou que o Brasil não será atingido pela tarifa em 1º de agosto caso empresas brasileiras decidam "construir ou fabricar produtos dentro dos EUA". Em caso de retaliação, ele prometeu devolver na mesma medida.
"Se por qualquer razão o senhor [presidente Lula] decidir aumentar suas tarifas, qualquer que seja o valor escolhido, ele será adicionado aos 50% que cobraremos", declarou.
Trump defende Bolsonaro: 'Não é como se ele fosse meu amigo, é alguém que eu conheço'
Tarifaço
Na carta que Trump enviou ao governo Lula em 9 de julho, o republicano afirmou, sem apresentar provas, que a decisão de aumentar a taxa foi tomada “em parte devido aos ataques insidiosos do Brasil contra eleições livres e à violação fundamental da liberdade de expressão dos americanos”.
O documento mistura alegações comerciais e políticas para justificar a tarifa de 50% sobre produtos brasileiros, incluindo o suposto déficit que os EUA teriam com o Brasil.
Entidades da indústria e do agronegócio brasileiro manifestaram preocupação com o anúncio e disseram que as taxas ameaçam empregos. A Confederação Nacional da Indústria (CNI), por exemplo, afirmou que não há qualquer fato econômico que justifique uma medida desse tamanho.
O vice-presidente do Brasil, Geraldo Alckmin, se reuniu hoje com empresários para discutir a crise e possíveis saídas para ela, enquanto o governo publicou o decreto da Lei da Reciprocidade Econômica. O texto determina as formas como o Brasil pode responder ao tarifaço.
Após as reuniões, Alckmin afirmou que o governo brasileiro não planeja pedir ao governo americano que adie a entrada em vigor da tarifa anunciada por Trump. O objetivo, segundo ele, é "resolver o problema".
"A ideia do governo não é pedir que o prazo seja estendido, mas procurar resolver até o dia 31. O governo vai trabalhar para resolver nos próximos dias", disse Alckmin.
Ao ser perguntado sobre os setor de produtos perecíveis, o vice-presidente admitiu que é um segmento delicado e acrescentou que a produção embarcada também é uma "questão importante e urgente".
Infográfico - Entenda taxa de 50% anunciada por Trump ao Brasil e a relação econômica com os EUA.
Arte/g1
O presidente dos EUA, Donald Trump, fala com membros da imprensa no gramado da Casa Branca, em Washington, D.C., em 18 de junho de 2025.
Reuters/Kevin Lamarque