Pelo menos 16 imagens somem de página do governo Trump com documentos sobre caso Epstein
21/12/2025
(Foto: Reprodução) Justiça dos EUA divulga documentos do caso Epstein
Pelo menos 16 arquivos desapareceram da página do Departamento de Justiça do governo dos Estados Unidos com documentos relacionados ao caso Jeffrey Epstein, menos de um dia após serem publicados, sem nenhuma explicação oficial ou aviso ao público.
Os arquivos desaparecidos, disponíveis na sexta-feira e não mais acessíveis no sábado, incluíam imagens de pinturas retratando mulheres nuas, e uma que mostrava uma série de fotografias ao longo de um aparador e em gavetas.
Essa última imagem mostra, dentro de uma gaveta entre outras fotos, uma fotografia do presidente Donald Trump, ao lado de Epstein, Melania Trump e da associada de Epstein, Ghislaine Maxwell.
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Foto do caso Jeffrey Epstein que sumiu da página do governo americano com arquivos sobre a investigação. Imagem inclui uma foto com Donald Trump
@Oversight Dems/Reprodução
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O Departamento de Justiça não respondeu a perguntas no sábado sobre o motivo do desaparecimento dos arquivos, mas disse em uma postagem no X que "fotos e outros materiais continuarão sendo revisados e editados de acordo com a lei, por cautela, à medida que recebermos informações adicionais."
Na internet, o desaparecimento inexplicado dos arquivos alimentou especulações sobre o que foi retirado e por que o público não foi notificado, aumentando o mistério sobre Epstein e as figuras poderosas que o cercavam.
Democratas do Comitê de Supervisão da Câmara questionaram a imagem desaparecida com uma foto de Trump em uma postagem no X: "O que mais está sendo encoberto? Precisamos de transparência para o povo americano."
O episódio aprofundou preocupações que sugiram com a tão aguardada divulgação de documentos do Departamento de Justiça.
As dezenas de milhares de páginas tornadas públicas ofereceram poucas novas informações sobre os crimes de Epstein ou as decisões da promotoria que permitiram que ele evitasse acusações federais graves por anos, ao mesmo tempo em que omitiram alguns dos materiais mais aguardados, incluindo entrevistas do FBI com vítimas e memorandos internos do Departamento de Justiça sobre as decisões de acusação.
Imagens do caso Jeffrey Epstein inclui uma pintura mostrando o ex-presidente dos EUA Bill Clinton com um vestido azul e fotos do próprio Clinton ao lado de Epstein, de uma mulher e posando junto com Michael Jackson e Diana Ross
REUTERS/Jonathan Ernst
Documentos importantes ficaram de fora
Alguns dos registros mais importantes esperados sobre Epstein não aparecem em lugar nenhum na divulgação inicial do Departamento de Justiça, que abrange dezenas de milhares de páginas.
A publicação dos registros foi determinada por uma lei aprovada recentemente pelo Congresso norte-americano.
Mas estão faltando, por exemplo, entrevistas do FBI com sobreviventes e memorandos internos do Departamento de Justiça que analisam as decisões de acusação.
Os registros poderiam ter ajudado a explicar o ponto de vista dos investigadores sobre o caso e por que Epstein foi autorizado, em 2008, a se declarar culpado de uma acusação relativamente menor de prostituição em nível estadual.
As lacunas vão além.
Os documentos pouco mencionam várias figuras poderosas há muito associadas a Epstein, incluindo o ex-príncipe Andrew da Grã-Bretanha, e aumentam as perguntas sobre quem foi investigado, quem não foi, e o quanto as divulgações realmente promovem a responsabilização pública.
Entre as novidade estão informações sobre a decisão do Departamento de Justiça de abandonar uma investigação sobre Epstein nos anos 2000, que lhe permitiu se declarar culpado da acusação estadual de prostituição, e uma queixa inédita de 1996 acusando Epstein de roubar fotografias de crianças.
As divulgações até agora têm sido ricas em imagens das casas de Epstein em Nova York e nas Ilhas Virgens Americanas, com algumas fotos de celebridades e políticos.
Havia uma série de fotos nunca vistas do ex-presidente Bill Clinton, mas pouquíssimas de Trump. Ambos foram associados a Epstein, mas ambos, desde então, renegaram essas amizades.
Donald Trump com Jeffrey Epstein
Comissão de Supervisão da Câmara / Divulgação
Nenhum deles foi acusado de qualquer irregularidade em conexão com Epstein e não havia indicação de que as fotos desempenharam um papel nos processos criminais movidos contra ele.
Apesar do prazo final estabelecido pelo Congresso para que todos os documentos fossem tornados públicos na sexta-feira, o Departamento de Justiça disse que planeja divulgar os registros de forma contínua.
A instituição atribuiu o atraso ao demorado processo de ocultar os nomes dos sobreviventes e outras informações de identificação. O departamento não deu nenhuma informação sobre quando mais registros poderiam chegar.
Essa abordagem irritou alguns acusadores de Epstein e membros do Congresso que lutaram para aprovar a lei que forçou o departamento a agir.
Em vez de marcar o fim de uma batalha de anos por transparência, a divulgação de documentos de sexta-feira foi apenas o começo de uma espera indefinida por uma imagem completa dos crimes de Epstein e das medidas tomadas para investigá-los.
"Sinto que, mais uma vez, o Departamento de Justiça está nos decepcionando", disse Marina Lacerda, brasileira que denunciou ter sido abusada sexualmente por Epstein desde quando tinha 14 anos.
Foto de Bill Clinton na banheira está entre os arquivos do caso Epstein
Registros editados ou sem contexto
Promotores federais em Nova York apresentaram acusações de tráfico sexual contra Epstein em 2019, mas ele se suicidou na prisão apóster sido preso.
Os documentos recém-divulgados são uma pequena fração de potencialmente milhões de páginas de registros em posse do departamento.
Como exemplo, o vice-procurador-geral Todd Blanche disse que os promotores federais de Manhattan tinham mais de 3,6 milhões de registros das investigações de tráfico sexual de Epstein e Maxwell, embora parte seja igual ao material já entregue pelo FBI.
Fotos mostram Epstein ao lado de Michael Jackson e jantar com Bill Clinton e Mick Jagger
Departamento de Justiça dos EUA
Muitos dos registros divulgados até agora já haviam sido tornados públicos em processos judiciais, publicações do Congresso ou de outras formas. Pela primeira vez, no entanto, eles foram divulgados um mesmo lugar e tornados disponíveis para pesquisa gratuita pelo público.
Os registros novos muitas vezes não têm o contexto necessário ou estão censurados com tarjas pretas. Um documento de 119 páginas marcado como "Grande Júri-NY", provavelmente de uma das investigações federais de tráfico sexual que levaram às acusações contra Epstein ou Maxwell, foi completamente censurado.
Os republicanos aliados de Trump exploraram as imagens de Bill Clinton, incluindo fotos do democrata com os cantores Michael Jackson e Diana Ross.
Havia também fotos de Epstein com os atores Chris Tucker e Kevin Spacey e o apresentador de TV Walter Cronkite. Mas nenhuma das fotos tinha legendas e não foi dada nenhuma explicação sobre o contexto do encontro entre o bilionário e as pessoas.
Os registros mais substanciais divulgados até agora mostram que os promotores federais aparentemente tinham uma investigação sólida contra Epstein já em 2007, mas nunca o acusaram.
As transcrições dos procedimentos do grande júri, divulgadas publicamente pela primeira vez, incluíam depoimentos de agentes do FBI que descreveram entrevistas feitas com várias meninas e jovens mulheres que descreveram ter sido pagas para realizar atos sexuais para Epstein. A mais nova tinha 14 anos e estava no nono ano.
Uma delas havia contado aos investigadores sobre ter sido agredida sexualmente por Epstein quando inicialmente resistiu às suas investidas durante uma massagem.
Outra, então com 21 anos, testemunhou perante o grande júri sobre como Epstein a havia contratado aos 16 anos para realizar uma massagem sexual e como ela passou a recrutar outras meninas para fazer o mesmo.
"Para cada garota que eu trazia, ele me dava US$ 200", disse ela, acrescentando que as vítimas eram principalmente pessoas que ela conhecia do ensino médio. "Eu também dizia a elas que, se fossem menores de idade, era só mentir sobre isso e dizer a ele que tinham 18 anos."
Os documentos também contêm a transcrição de uma entrevista que os advogados do Departamento de Justiça fizeram mais de uma década depois com o procurador dos EUA que supervisionou o caso, Alexander Acosta, sobre sua decisão final de não apresentar acusações federais.
Acosta, que foi secretário do Trabalho durante o primeiro mandato de Trump, citou preocupações sobre se um júri acreditaria nos acusadores de Epstein.
Ele também disse que o Departamento de Justiça pode ter sido relutante em transformar em um processo federal um caso que estava na fronteira legal entre tráfico sexual e solicitação de prostituição, algo normalmente tratado por promotores estaduais.
"Não estou dizendo que era a visão correta", acrescentou Acosta. Ele também disse que o público de hoje provavelmente veria as coisas de forma diferente.
"Houve muitas mudanças na culpabilização da vítima", disse Acosta.
Jennifer Freeman, advogada que representa a acusadora de Epstein Maria Farmer e outras sobreviventes, disse no sábado que sua cliente se sente vingada após a divulgação dos documentos.
Farmer buscou por anos documentos que comprovassem sua alegação de que Epstein e Maxwell possuíam imagens de abuso sexual infantil.
"É um triunfo e uma tragédia", disse ela. "Parece que o governo não fez absolutamente nada. Coisas horríveis aconteceram e, se eles tivessem minimamente investigado, poderiam tê-lo detido."