Prêmio Nobel da Paz 2025 vai para María Corina Machado por sua luta pela democracia na Venezuela
10/10/2025
(Foto: Reprodução) María Corina Machado leva Nobel da Paz 2025
Líder da oposição na Venezuela, María Corina Machado é a ganhadora do Prêmio Nobel da Paz 2025, anunciou o Comitê Norueguês do Nobel, em Oslo, nesta sexta-feira (10).
A líder opositora venezuelana, de 58 anos, foi reconhecida “por seus esforços persistentes em favor da restauração pacífica da democracia e dos direitos humanos na Venezuela ”.(leia mais abaixo). O prêmio totaliza 11 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 6,2 milhões).
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Corina Machado é a 20ª mulher a vencer o Nobel da Paz, entre mais de 90 homens que já levaram o prêmio. Ela vive escondida na Venezuela desde que contestou amplamente o resultado das eleições presidenciais ocorridas em julho de 2024, marcadas pela falta de transparência e que deram, sem provas, a reeleição ao presidente Nicolás Maduro. O resultado não é reconhecido internacionalmente.
A líder opositora foi impedida de concorrer. Desde a eleição, o regime Maduro aumentou a repressão sobre ela e outros nomes da oposição, como o candidato Edmundo González. Corina Machado vive escondida na Venezuela e foi presa brevemente no ano passado. Veja mais sobre a trajetória dela aqui.
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"O Prêmio Nobel da Paz de 2025 vai para uma campeã corajosa e comprometida da paz, para uma mulher que mantém viva a chama da democracia em meio a uma escuridão crescente. (...) Ela recebe o Prêmio Nobel da Paz por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo da Venezuela e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia", afirmou o presidente do Comitê Norueguês do Nobel, Joergen Watne Frydnes.
Frydnes disse que Corina Machado "sempre falou pelos direitos humanos e pelo povo venezuelano. Ela é o equilíbrio contra os tiros (do regime Maduro)".
‘Uma das vozes mais corajosas da América Latina’
María Corina Machado convocou seus apoiadores a não comparecer às urnas nas eleições venezuelanas de domingo (25/05).
Alfredo Lasry R/Getty Images via BBC
Segundo o Comitê Norueguês, María Corina Machado foi laureada por representar “um dos exemplos mais extraordinários de coragem civil na América Latina nos últimos tempos”.
O comitê descreveu a opositora como uma figura unificadora em um cenário político antes fragmentado, capaz de reunir grupos rivais em torno da defesa de eleições livres e da restauração do Estado de Direito.
“A democracia é uma condição prévia para a paz duradoura. Quando líderes autoritários tomam o poder, é essencial reconhecer os defensores da liberdade que se erguem e resistem”, destacou o comunicado.
Machado é fundadora do movimento Súmate, criado há mais de 20 anos para fiscalizar eleições e promover o voto livre no país. Ela se tornou símbolo da resistência ao regime de Nicolás Maduro, enfrentando perseguições, bloqueio de candidatura e ameaças à própria vida — mas, mesmo assim, decidiu permanecer na Venezuela.
“Ela manteve-se no país, mesmo sob grave risco, inspirando milhões de pessoas”, diz o comitê.
Infográfico - Os vencedores do Prêmio Nobel 2025
Arte/g1
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Democracia sob repressão
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A entidade lembrou que a Venezuela, antes considerada uma democracia estável, mergulhou em uma crise humanitária e econômica sob um regime “brutal e autoritário”.
Segundo o texto, o país enfrenta pobreza extrema, êxodo de mais de 8 milhões de pessoas e repressão sistemática à oposição, com fraudes eleitorais, prisões e censura à imprensa.
O Nobel da Paz para Corina Machado representou um "duro golpe político para o regime de Maduro", afirmou o comentarista da Globonews Ariel Palacios. (veja no vídeo acima)
Em 2024, Machado foi impedida de disputar as eleições presidenciais, mas apoiou Edmundo González Urrutia, candidato da oposição unificada.
Centenas de milhares de voluntários se mobilizaram como observadores para proteger os votos, mesmo sob risco de detenção e tortura. O comitê destacou que “os esforços da oposição foram inovadores, corajosos, pacíficos e democráticos”.
O Comitê Norueguês afirmou que Machado cumpre os três critérios estabelecidos por Alfred Nobel para o prêmio: promover fraternidade entre nações, reduzir a militarização e trabalhar pela paz.
“Ela demonstrou que as ferramentas da democracia também são as ferramentas da paz. María Corina Machado personifica a esperança de um futuro em que os direitos fundamentais dos cidadãos sejam protegidos e suas vozes ouvidas”, concluiu o comunicado.
Quem é María Corina Machado
Saiba quem é María Corina Machado, vencedora do Nobel da Paz 2025
Nascida em 1967, na Venezuela, divorciada e mãe de três filhos, María Corina Machado é uma das principais vozes da oposição democrática ao regime de Nicolás Maduro. Engenheira de formação, com estudos em finanças, ela iniciou a carreira no setor privado antes de se dedicar à política e à defesa dos direitos civis.
Em 2023, anunciou sua candidatura à Presidência da República, mas teve a inscrição barrada pelo regime. Nas eleições de 2024, apoiou o opositor Edmundo González Urrutia, cuja vitória foi negada pelo governo, apesar das evidências apresentadas pela oposição. Leia mais sobre quem é María Corina Machado aqui.
Segundo o Comitê Norueguês do Nobel, Machado recebe o Prêmio Nobel da Paz de 2025 “por seu trabalho incansável na promoção dos direitos democráticos do povo venezuelano e por sua luta para alcançar uma transição justa e pacífica da ditadura para a democracia”.
“María Corina Machado mantém acesa a chama da democracia em meio à escuridão crescente”, afirma o texto oficial da premiação.
Nobel da Paz
Pelo testamento de Alfred Nobel (1833-1896), o Prêmio Nobel da Paz deve ser entregue à pessoa ou organização que tenha contribuído de forma significativa para a fraternidade entre as nações, a abolição ou redução de exércitos permanentes, e a promoção de congressos de paz.
O ano foi marcado por uma intensa campanha para que o presidente dos EUA, Donald Trump, receba a honraria, capitaneada pelo próprio republicano. Entenda por que Trump não venceu o prêmio.
Analistas já diziam antes do prêmio que as chances de Trump ser agraciado eram praticamente nulas nesta edição.
Entre os nomes apontados como favoritos ao prêmio neste ano estavam o Comitê para a Proteção dos Jornalistas (CPJ), as Salas de Resposta de Emergência do Sudão e a ONU, que completou 80 anos neste ano.
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De 'mercador da morte' a promotor da paz
Nobel foi um químico, engenheiro e inventor sueco. Considerado brilhante, ele fez fortuna com a venda de explosivos, incluindo sua invenção mais famosa, a dinamite, tanto para exércitos quanto para empresas de mineração.
Não é possível saber por que ele decidiu criar o famoso prêmio para a promoção da paz: Nobel estabeleceu a honraria em testamento e, sendo introvertido e solitário durante boa parte da vida, não forneceu explicação para sua escolha.
O que se sabe, é que, oito anos antes de morrer, Alfred deve ter se surpreendido ao abrir um jornal francês e dar de cara com seu próprio obituário — quem havia morrido era seu irmão, Ludvig, mas a publicação se confundiu.
"O mercador da morte está morto", dizia o texto, em referência a Alfred.
Há biógrafos que contestam essa versão e creditam o Nobel da Paz à intensa amizade com a pacifista austríaca Bertha von Suttner.
Busto de Alfred Nobel no prédio onde o prêmio é entregue, em Oslo, na Noruega
Reuters
Noruega, e não Suécia
Pela vontade de Alfred Nobel expressa em seu testamento, o Nobel da Paz é o único Nobel a ser entregue na Noruega, e não em sua Suécia Natal.
Entre 1814 e 1905, Suécia e Noruega constituíam um reino unido sob o mesmo monarca e o mesmo corpo diplomático, embora permanecessem Estados distintos, com constituições, leis e até forças armadas separadas. A dissolução foi realizada de forma pacífica.
O Comitê Norueguês do Nobel é formado por cinco membros, todos indicados pelo Parlamento norueguês para um mandato de seis anos. A cerimônia de entrega é realizada em Oslo — desde 1990, na prefeitura da capital.
O evento de entrega ocorre todo dia 10 de dezembro, aniversário da morte de Alfred, e a medalha é entregue pelo presidente do Comitê. É comum o rei da Noruega estar presente na solenidade.
Principais ganhadores
Até 2024, 19 mulheres e 92 homens haviam recebido o prêmio. Por 19 vezes, o comitê organizador resolveu não entregar a honraria a ninguém — a última em 1972.
O prêmio foi entregue pela primeira vez em 1901. Naquele ano, os ganhadores foram Frédéric Passy e Henry Dunant. Passy foi um dos fundadores da União Interparlamentar, que media acordos multilaterais entre Parlamentos do mundo todo. Já Dunant foi um dos criadores da Cruz Vermelha.
Em 2024, o Nobel da Paz foi concedido à Nihon Hidankyo, uma organização que representa sobreviventes dos bombardeios nucleares de 1945 em Hiroshima e Nagasaki.
Houve decisões contestadas, como as do diplomata americano Henry Kissinger, em 1973, e a de Barack Obama, em 2009.
Mahatma Gandhi foi indicado cinco vezes para receber o Prêmio Nobel, mas nunca venceu.
Veja, abaixo, outras personalidades e instituições que venceram o Nobel da Paz:
Theodore Roosevelt, ex-presidente dos EUA, em 1906.
Cruz Vermelha, em 1917, 1944 e 1963.
Woodrow Wilson, ex-presidente dos EUA e fundador da Liga das Nações, em 1919.
Cordell Hull, um dos fundadores da ONU, em 1945.
Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), em 1954 e 1981.
Martin Luther King Jr, ativista norte-americano, em 1964.
Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), em 1965.
Henry Kissinger, secretário de Estado dos EUA, em 1973
Madre Teresa de Calcutá, em 1979.
Tenzin Gyatso, o 14º Dalai Lama, em 1989.
Mikhail Gorbachev, ex-presidente da União Soviética, em 1990.
Aung San Suu Kyi, ativista pelos direitos humanos, em 1991.
Nelson Mandela, ativista anti-Apartheid e futuro presidente da África do Sul, em 1993
Médicos Sem Fronteiras, em 1999.
ONU, em 2001.
Al Gore, ex-vice-presidente dos EUA, em 2007.
Barack Obama, em 2009
União Europeia, em 2012
Malala Yousafzai, ativista paquistanesa, em 2014.
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